quarta-feira, 10 de março de 2010

O fenômeno Mark(eting) Millar


Mark Millar é hoje, sem dúvida, o escritor de hqs com mais destaque na mídia. Nos últimos anos ele foi responsável por várias revistas de sucesso. Participou da criação da linha Ultimate, cujo objetivo era recriar personagens clássicos da Marvel num contexto moderno, de modo a fisgar novos leitores (já que não era necessário saber décadas de cronologia dos personagens). Ele foi o roteirista responsável por Ultimate X-Men, a super aclamada The Ultimates (versão dos Vingadores) e co-roteirizou o primeiro arco de Ultimate Fantastic Four com Brian M. Bendis. Com isso, foi ganhando mais moral na indústria dos quadrinhos e lançou Superman: Red Son (história que conta como seria o Super-Homen se, ao invés de cair nos EUA, caísse na URSS no auge da guerra fria), escreveu histórias para o Homem-Aranha e Wolverine e a mini-série "Guerra Civil" (mega-saga da Marvel que culminou com a morte do Capitão América). Após Guerra Civil, Millar já estava consolidado como um dos pesos pesados, mas ele queria expandir seus horizontes.



Depois que sua (fraca) hq autoral Wanted (Procurado) virou o (horroroso) filme com Angelina Jolie, o escocês decidiu fazer um hype em cima de tudo que produz, principalmente de suas hqs autorais, já que os direitos para os filmes pertencem, logicamente, à ele. Isso pôde ser visto quando Millar anunciou Kick-Ass que conta a história de Dave Lizewski, um garoto fã de quadrinhos comum que, segundo o próprio, não é nem popular da escola e nem o otário que todos tiram sarro, ou seja, ele é aquele que você mal nota. Dave decide, então, ser um herói de verdade, se fantasiando e saindo para combater o crime em Nova York. Para promover Kick-Ass, Millar colocou no youtube um vídeo do protagonista em ação, criou uma página no Myspace, como se fosse o protagonista, dizendo que Mark Millar e John Romita Jr. estavam produzindo uma revista sobre ele. Quando a primeira edição do gibi finalmente saiu - com a frase “o melhor gibi de super-herói de todos os tempos” na capa - os direitos para a adaptação para o cinema já estavam vendidos.


Como “em time que está ganhando, não se mexe”, no início do ano o autor resolveu divulgar sua nova hq, Nemesis, de uma forma polêmica. Lançou uma imagem do personagem do título com os dizeres: “What if Batman was a cunt?” (cunt é um dos palavrões mais pesados da lingua inglesa). Lógico que a DC Comics (dona dos direitos do Batman) reclamou e ele tirou a imagem da internet (mas ainda podem ser achadas pelos sites da vida). Como segundo ato de promoção, ele lançou uma outra imagem do personagem com os dizeres “Makes Kick-Ass look like shit”. O resultado? Especulações nos sites e fóruns especializados sobre quem vai dirigir o eventual filme: Guy Ritchie ou Sam Raimi.

Mark Millar & Steve McNiven's: Nemesis

Muitas pessoas criticam, chamando-o de oportunista, marketeiro e tudo mais. Porém, a verdade é que, apesar de alguns deslizes (Chosen e Procurado), ele produz material de boa qualidade como Old Man Logan (a melhor história do Wolverine de todos os tempos – segundo ele) e Superman: Red Son e materiais geniais como Kick-Ass e The Ultimates. Vale lembrar que a indústria dos quadrinhos hoje não é nem sombra do que já foi. Atualmente é difícil ver alguma revista passar de 150 mil exemplares vendidos (nos EUA/Canadá), enquanto nos anos 80 e 90 algumas revistas vendiam mais de 250 mil cópias. Quem sabe toda essa propaganda gerada por Millar pode acabar trazendo mais leitores? O fato é que o escocês hoje está na crista da onda.

OBS: “Kick-Ass: Quebrando Tudo”, dirigido por Matthew Vaughn, estréia nos EUA dia 16 de abril e chega por aqui no dia 11 de junho.